A língua feminina de Nóssis de Locri

Autores

  • Cristiane A. de Azevedo UFRRJ

DOI:

https://doi.org/10.61378/enun.v8i2.189

Palavras-chave:

Nóssis; Eros; epigrama; Safo

Resumo

Quando se trata da Antiguidade grega, o silêncio e o silenciamento das mulheres parecem ser a regra. Suas tarefas estão circunscritas, na maioria dos casos, ao lar e ao tear. Suas vozes parecem não cruzar as portas de seus lares, porque as mulheres não devem falar em público. Mas se ouvirmos atentamente, veremos que são muitas as que ousaram falar para outras mulheres e igualmente para quem quisesse ouvi-las. Nóssis de Locri, que teria vivido no século III a.C, é uma dessas mulheres da antiguidade que elevou sua voz para que hoje possamos escutá-la. Seus poemas têm a forma de epigramas, forma literária comum na época helenística, que, por sua exposição em espaços públicos, convidam a todos a escutar seus versos. O tema central de sua poesia – Eros – nos revela a influência decisiva de Safo em seu pensamento, possível de ser percebida de forma implícita e explícita uma vez que a poetisa de Mitilene é nomeada em seus versos. Este trabalho pretende voltar a escuta para os versos de Nóssis, aquela amada pelas Musas e por Safo – como ela própria se nomeia – aquela que se recusou a calar-se e que se ocupou de uma atividade, sobretudo masculina, a poesia, mas não para falar como um homem e sim para, a partir da experiência de sua própria feminilidade, nos fazer escutar as questões de seu tempo e de seu pensamento.

Referências

AZEVEDO, Cristiane A. de. “A métis de Penélope” in: Anais de Filosofia Clássica, vol. 12 nº 23, 2018.

BOWMAN, Laurel. Nossis, Sappho And Hellenistic Poetry. Ramus 27, 1998, 39-59.

CALAME, Claude. Eros na Grécia Antiga. São Paulo: Editora Paulus, 2013.

CARSON, Anne. Eros, o doce-amargo. São Paulo: Bazar do Tempo, 2022, edição Kindle.

CUSSET, Christophe. La poétesse et l'épigramme : les voix féminines d’Anyté et de Nossis. Annales de l’APLAES n.3, 2016.

GREENE, Ellen (ed.). Women Poets in Ancient Greece and Rome. Norman: University of Oklahoma Press, 2005.

GOW, A. S. F. e PAGE, D. L. The Greek Anthology. Hellenistic Epigrams. Vol. I. Introduction and Text. Vol. II. Commentary and Indexes. Cambridge, University Press, 1965. 2 vol.

GUTZWILLER, Kathryn J. Poetic garlands: Hellenistic epigrams in context. California: University of California Press, 1998.

HESÍODO. Teogonia. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2007.

HOMERO. Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

HUESO, Mariana Gardell. Besada por Cipris. Martínez: Rara Avis Casa Editorial, 2021.

___________. La griegas: poetas, oradoras y filósofas. Buenos Aires: Galerna, 2022.

LARDINOIS, André. “The parrhesia of young female choruses in ancient Greece” in: ATHANASSAKI, L. e BOWIE, E. (eds). Archaic and classical song: performance, politics and dissimination. Berlin: De Gruyter, 2011.

LICCIARDELLO, Flavia. Nossis’ auto-epitaph: analysing a controversial epigram. Budapest: Acta Antiqua. Academiae Scientiarum Hungaricae, v. 56, n. 4, p. 435-448, 2016

MOST, Glenn. “Reflecting Sappho” in: GREENE, E (org.). Re-reading Sappho: reception and transmission. Berkeley: University of California Press, 1996.

RAGUSA, Giuliana. Hino a Afrodite e outros poemas. São Paulo: Hedra, 2021.

__________. “Safo de Lesbos: de liras e neblinas” in: REDE, Marcelo (org.). Vidas antigas: ensaios biográficos da Antiguidade. São Paulo: Intermeios, 2019.

SEGAL, Charles. Eros and incantation: Sappho and oral poetry. Arethusa , Vol. 7, No. 2 (1974), pp. 139-160.

SKINNER, Marilyn B. Sapphic Nossis. Arethusa 22, 1989, 5-18.

Downloads

Publicado

2024-01-24